quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Ilusões Acústicas na Arte Pré-histórica?
Quem nunca se sentiu cativado alguma vez pela particularidade de sua voz distorcida e repetida por causa do eco? Esta singular "ilusão" sonora, produzida em certos locais naturais e em construções realizadas pelo ser humano, fascinou à humanidade desde a mais remota antiguidade.
E nas últimas décadas, converteu-se também em matéria de interesse para um punhado de pesquisadores relacionados com as mais primitivas amostras de arte: as pinturas rupestres. Embora há mais de cem anos que começaram a estudar os numerosos exemplos de arte em paredes de cavernas, os pesquisadores seguem se perguntando a respeito do verdadeiro significado destas primitivas manifestações artísticas. E ainda não temos uma resposta certa e convincente para elas.
Agora, um pesquisador especialista em acústica, acaba de apresentar um novo estudo em que propõe que o eco, e suas singulares caraterísticas, pôde ter feito um importante papel na escolha dos locais e os temas empregados pelos artistas pre-históricos.
Durante o último Encontro da Sociedade Acústica da América, o pesquisador Steven J. Waller -de la Rock Art Acoustics-, propôs que o eco, considerado por culturas antigas como um fenômeno sobrenatural, poderia estar por trás de muitas pinturas rupestres, petróglifos e inclusive monumentos megalíticos como o de Stonehenge.
Cabeças de leoas representadas em Chauvet (França)
A hipótese não é de todo nova, pois anteriormente outros estudiosos propuseram a mais que provável relação entre este fenômeno acústico e as pinturas primitivas: por exemplo, sabe-se que em algumas grutas com arte rupestre, as pinturas aparecem com maior número em locais concretos em que a sonoridade das grutas ou abrigos naturais possuem uma maior reverberação.
Para Waller, quem lembrou que em muitas culturas antigas o eco de certos locais era considerado uma resposta dos espíritos "o que fez acreditarem que as divindades e seres sobrenaturais habitavam estes lugares", parece inegável que os artistas pré-históricos levaram em conta esta circunstância para decorar seus santuários sagrados.
Diferentes espécies de animais pintados na gruta de Lascaux (França)
Os ecos produzidos pelos aplausos, por exemplo, ressoam com frequência criando um som que lembra o trotar de certos animais com cascos, e se os aplausos são realizados por várias pessoas ao mesmo tempo, o som decorrente desse eco é muito similar ao de um estouro de boiada.
Na opinião de Waller, isto explicaria por que os criadores da arte paleolítica representavam imagens de bisontes, cavalos e outros animais em pontos concretos das grutas. Era uma forma de conexão com os espíritos e os deuses e, de fato, em muitos casos tais pinturas tendem a se agrupar precisamente naqueles locais com uma acústica mais acentuada, enquanto outros muros próximos -com frequência muitos mais acessíveis-, foram ignorados por estes artistas da pré-história.
Gruta de Lascaux (França)
Há alguns anos, em 2008, outro especialista apresentou à comunidade científica uma conclusão muito similar. Naquele ano, Iegor Reznikoff, expert em acústica da Universidade de Paris e especializado na sonoridade dos templos românicos medievais, deu a conhecer os resultados de sua investigação em dez grutas com pinturas rupestres.
Em todas elas, os desenhos de cavalos, bisontes e mamutes coincidiam à perfeição com os locais que melhor amplificavam e "replicavam" o som, e em especial o das vozes humanas e certos instrumentos musicais. Um dos casos mais chamativos era o da gruta de Niaux, em Ariège (França), onde um dos espaços da gruta, conhecido como o "Salão Negro", apresenta uma sonoridade espetacular, comparável ao de algumas capelas românicas.
Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara, Brasil (imagem incidental).
Em seu estudo, Reznikoff chegava a conclusões muito similares às de Waller, e sugeriu -embora reconhecia não dispor de provas conclusivas-, que possivelmente a sonoridade de certos pontos concretos das grutas influenciava na espécie concreta de animais que representavam.
Baseando em seus achados, e nos estudos anteriores como o de Reznikoff, Waller fez ênfase no fato inegável de que os fenômenos acústicos -interpretados a partir de um ponto de vista sobrenatural- tiveram um significado cultural muito importante para os homens pré-históricos, pelo qual, os pesquisadores e as autoridades deveriam se esforçar em preservar estes sítios arqueológicos e seus sons naturais para permitir no futuro, estudos mais profundos a respeito.
Fonte
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário