quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O Curioso Enigma da Pedra da Loucura


Só os Santos, absortos em sua dimensão sossegada e introspectiva, seriam nosso modelo absoluto de salvação. Embora eles ocasionalmente também tenham ao seu redor, presenças malignas tentando-os.

Jheronimus Bosch foi desde sempre um sábio artesão das emoções e pecados da humanidade, e pela ótica da religião cristã, nossos pecados por simples mortais quase sempre ignorantes que somos, são nossos vícios e o orgulho que nos faz acreditar que sabemos tudo, que podemos inclusive, desafiar à própria natureza.

"A extração da pedra da loucura", é um exemplo disso. O tema principal da pintura é simples. Segundo o pintor Jheronimus Bosch, na Idade Média figurava o convencimento de que a loucura tinha sua origem em uma pedra que toda pessoa desequilibrada possuía em sua cabeça.

Extração da pedra da loucura - Jheronimus Bosch 


Então como sanar esse mal? Como devolver a necessária razão para que o indivíduo pudesse se reintegrar à sociedade?
Praticando uma selvagem intervenção cirúrgica em busca da suposta pedra. Não é preciso mais que atentar alguns minutos para o ilustrativo quadro de Bosch  para descobrir alguns interessantes matizes:


  • Vemos um estranho doutor com um funil na cabeça, símbolo da estupidez humana.
  • A pessoa supostamente desequilibrada, é um homem de idade que olha para nós como que clamando por ajuda. De sua cabeça não é extraída uma pedra, mas sim, uma tulipa.
  • Percebe o saco de dinheiro na cadeira? Está atravessado por um punhal, símbolo absoluto da malévola fraude de tal operação.
  • Também estão presentes na obra uma freira e um frade. A primeira traz um livro fechado na cabeça, o qual nos faz intuir essa sutil metáfora tão bem expressada por Bosch, para a ignorância e a superstição que, em lugar de salvar almas, mata pessoas. Mas, atenção, há quem veja nesse livro não uma obra sagrada, mas sim um manual de sortilégios.
  • E o que traz o frade em suas mãos? Nada mais e nada menos que um bom cântaro de vinho.
  • Prestando à atenção, se nota também que o quadro em si está disposto em forma circular, no qual, nos faz lembrar uma espécie de espelho. Reflexo de nossa própria ignorância? Certamente. Como vemos, o talento do pintor holandês não tinha limites.

O recorrente tema da pedra da loucura 

Bosch não foi o único artista que quis plasmar essa terrível prática.
Na imagem abaixo, nos encontramos com outra obra similar intitulada "O cirurgião" de Jan Sanders van Hemessen, um pintor flamenco da Renascença nórdica, realmente interessante também.


A pedra da loucura foi um tema bastante habitual dentro da pintura de época. À primeira vista, parece que procuravam denunciar um costume clássico da Idade Média que chegou inclusive até a Renascença, simbolizando mediante alegorias pictóricas, a tentativa de encontrar esse "cálculo craniano" -que seria similar aos cálculos renais-, que obstruíam a razão e traziam a loucura.

Para concluir, é preciso dizer algo importante que revelam os historiadores: em nenhum momento se tem conhecimento de que fossem realizadas operações na Idade Média para extirpar tais "pedras".

Extraindo a pedra da loucura , ou uma operação na cabeça - Pieter Bruegel , circa 1550

Na verdade, o tema dos "cálculos cranianos" é uma simples "alegoria". Não é real. Trata-se de um símbolo pictórico que serviu na verdade, a muitos artistas como Bosch, para plasmar a estupidez humana em seu máximo esplendor, ao mesmo tempo que, para criticar uma prática que sim, vinha sendo feita desde a antiguidade: a trepanação.

Fonte Fonte

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