sexta-feira, 14 de abril de 2017

O Mistério do Fogo Sagrado


Todos os Sábados Santos ou Sábados de Aleluia, dezenas de milhares de cristãos ortodoxos de todo o mundo se reúnem na igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém para um dos maiores acontecimentos na vida dos adeptos desse ramo do cristianismo: A descida do Fogo Sagrado.

Ateus e céticos acreditam que se trata de uma fraude, mas para os crentes é um verdadeiro milagre inexplicável. Este estranho e controverso fenômeno, representa um dos grandes mistérios dos nossos dias e desperta o interesse tanto de cientistas como de fiéis de todo o planeta.

Na manhã de Sábado de Aleluia, cristãos de todos os cantos do globo esperam em oração a descida da chama divina. Os fiéis seguram 33 velas em memória da idade que tinha Jesus Cristo quando morreu.

Segundo as testemunhas desse evento, alguns deles choram pelo temor de que o fogo não apareça, algo que de acordo com as Sagradas Escrituras, seria um sinal da aproximação do fim do mundo, junto com a descoberta da Arca de Noé e ressecamento do Carvalho de Mamre, a árvore de 5.000 anos sob a qual, segundo a tradição ortodoxa, rezava Abraão.

Carvalho de Mamre.

O fogo surge espontaneamente


Primeiro o patriarca da Igreja ortodoxa de Jerusalém - o atual patriarca é Teófilo III -
se despoja das suas roupas e é meticulosamente examinado por representantes da Polícia israelense. Os policiais também examinam a capela em busca de algum objeto que possa ajudar a acender o fogo.

Depois o patriarca entra sozinho no santo-sepulcro (Tumba Anastasis), que se encontra dentro da igreja da Ressurreição, e começa a sua oração. Junto com ele, milhares de crentes rezam na igreja, sem contar os milhões em todo o mundo que oram de seus respectivos países. Todo o santuário permanece no escuro, todas as luzes são apagadas. As pessoas esperam a vinda da Luz Santa.

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"Procuro o caminho na escuridão para o interior da câmara na qual caio de joelhos. Rezo aqui certas orações que nos foram transmitidas há séculos e, tendo
rezado, espero.", contava o então patriarca de Jerusalém Diodoro I em 1998.


Existem relatos de que o Fogo Sagrado não aparece somente no Santo Sepulcro, mas que pode aparecer em qualquer lugar da igreja e inclusive, acender espontaneamente as velas dos fiéis presentes e as lâmpadas de óleo das paredes do santuário, que estão cobertas com um vidro.


Os fiéis atribuem ao Fogo Sagrado, ainda outra peculiaridade: dizem que durante os primeiros minutos após o seu aparecimento, as chamas não queimam.

No vídeo a seguir, se pode ver como um homem passa rapidamente o fogo na barba sem que, aparentemente, esta se consuma pelas chamas:

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Contam que na era medieval, Jerusalém estava sob o domínio dos turcos muçulmanos, seus governadores tinham todo o interesse em desmentir a divindade do Fogo Sagrado e assim, confirmar que o islã era a religião verdadeira. No entanto, contam que não conseguiram apesar de todos os seus esforços.

Durante esse período, os patriarcas começaram a ser submetidos à revistas mais rígidas antes da cerimônia da descida do Fogo. Os turcos revistavam ainda mais minuciosamente para encontrar alguma evidência de fraude, e a descoberta de qualquer substância ou objeto que pudesse ser utilizado para acender o fogo, teria custado a vida ao chefe da Igreja ortodoxa de Jerusalém.

Um potente pulso pulso eletromagnético

Uma equipe de cientistas russos liderados pelo professor da Academia de Ciências Naturais, Pável Florenskii, realizou no ano 2008 várias medições físicas no lugar onde aparece o Fogo Sagrado.

A hipótese principal do seu trabalho, era que a ignição se produz devido a uma descarga elétrica. Sobre a base desta versão, decidiram registrar o espectro eletromagnético de onda longa durante a missa e no momento do aparecimento do Fogo Sagrado.

A parte principal do experimento foi levado a cabo em 26 de abril do 2008, a partir das 9:10 da manhã até às 15:35 da tarde, hora local de Jerusalém. O espectro da radiação electromagnética foi registrada de modo automático dentro de uma gama de frequências de 0 a 360 kHz. O fogo apareceu entre as 15:04 e as 15:08.

Depois da análise subsequente das formas de onda, descobriram que durante esses quatro minutos houve três descargas de energia parecidas com descargas elétricas. Um pulso de frequência radioelétrica de alta potência procedia da área do sepulcro de Anastasis.

Ou seja, um poderoso pulso eletromagnético foi registrado no momento do aparecimento do Fogo Sagrado e não foi resultado da grande quantidade de dispositivos eletrônicos que se encontravam no lugar, já que os equipamentos eletrônicos emitem sinais de uma frequência diferente das descargas elétricas.

"Demonstramos como ocorre exatamente, e descrevemos o fenômeno em termos científicos", comentou o professor Florenskii, embora tenha assinalado também, que o estudo não encontrou a origem do pulso.


As primeiras menções da descida do Fogo Sagrado na véspera da Páscoa, datam do século IV e se encontram entre as obras de Gregório de Níssa, Eusébio de Cesareia e Sílvia de Aquitânia. O historiador são Gregório de Níssa, por exemplo, escreve que o Apóstolo Pedro viu como "uma luz não criada" iluminou o Santo Sepulcro na noite da ressurreição de Jesus Cristo.

O monge francês Bernardo, no ano de 865 realizou uma peregrinação a Jerusalém e em seu itinerário descreveu assim os acontecimentos: "No Sábado Santo pela manhã, após a missa, as pessoas cantam 'Kyrie eleison' ('Senhor, tem piedade') até que se iluminam os lustres que penduram sobre o Santo Sepulcro e o patriarca começa a distribuir o Fogo entre os fiéis".

Outro historiador da Igreja, Eusébio de Cesareia, que também viveu no século IV, em sua "História eclesiástica" descreveu em seu escritos o milagre que teve lugar no Sábado Santo do século II, quando o patriarca de Jerusalém era São Narciso.


Normalmente nenhum representante oficial da Igreja católica presencia os fatos, ainda que anteriormente, até finais do século XIX, os católicos e os ortodoxos rezavam juntos ante o Santo Sepulcro durante o Sábado de Aleluia. Basicamente, o clero católico não tem uma postura definida quanto à Luz Santa e se divide entre os que acreditam que se trata de um milagre e os que não.

O papa Urbano II pronunciou no concilio de Clermont no ano de 1095 as seguintes palavras: "Em verdade, neste templo, o Sepulcro do Senhor, Deus repousa, até hoje. Não deixa de manifestar milagres já que, nos dias de sua Paixão, enquanto todas as luzes estão apagadas, em sua tumba e na igreja, de repente os lustres apagados se acendem". 

No entanto, em contraste com a postura de Urbano II, no ano de 1238, o papa Gregorio IX denunciou a Luz Sagrada declarando-a uma fraude. De todos modos, a Igreja católica não dá uma resposta clara e não se posiciona de maneira definitiva sobre a origem divina ou não deste fenômeno.

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